Esta coragem para sair à luz e ignorar a dor que ela me causa como se nada tivesse acontecido é porque nada se compara à felicidade de te ver morrer com o anoitecer.
Alimento-me na sombra fria com o ar leve dessa noite que traz o leite que me consola e amamenta.
Abres as veias e ofereces-te para que eu viva mais um dia. Para que volte a encontrar o tempo sombrio e vazio da infância, passado distante onde o sangue nos unia e era só nosso. Mas essa vida escapou-se com a queda ruidosa de um corpo nessas rochas onde só o mar batia até então. E ouvi o mar chamar por ti ao longe. Ouvi as ondas enraivecidas de tanta falta de ar e de coragem gritarem o teu nome. Chamavam por ti mas era eu quem respondia.
Acordei. O vento a acariciar a areia quente, o sol a empurrar-me para um recanto qualquer há muito esquecido. O sol a gritar-me que não tinha o direito a voltar à vida. Mas eu voltei. Voltei ainda que fosse para viver na escuridão.
Escondi-me nas rochas até ganhar forças para enfrentar o dia que sorria ao ver-me como um verme entregue ao abraço da solidão. Raiva e incompreensão foi o que senti ao pensar que deveria viver para sempre nesta condição. Rodeada por violência e desespero pois nem a morte me quer como eu a quero.
Invade-me o cheiro podre de um corpo em decomposição. Preciso alimentar-me. Não posso acabar assim. A caça revela-se inútil. Não sei caçar só pescar e nessa espera continuo a deteriorar-me.
A vítima mordeu o isco e sem saber porquê foi um imenso prazer mordê-lo. Depois da espera o meu corpo recupera. Um novo ser nasce em mim e nada mais importa a não ser este sangue novo que me corre nas veias e as aquece e revigora. Invadem-me imagens de outra vida, um passado diferente do meu, lembranças de uma infância que só pode ter sido inventada pois nunca a conheci.
Finalmente descanso. Respiro calmamente observando a beleza do ser, agora vazio e pálido, que se deixou dominar para que eu pudesse renascer.
Paz. Enfim és minha para sempre.
Alimento-me na sombra fria com o ar leve dessa noite que traz o leite que me consola e amamenta.
Abres as veias e ofereces-te para que eu viva mais um dia. Para que volte a encontrar o tempo sombrio e vazio da infância, passado distante onde o sangue nos unia e era só nosso. Mas essa vida escapou-se com a queda ruidosa de um corpo nessas rochas onde só o mar batia até então. E ouvi o mar chamar por ti ao longe. Ouvi as ondas enraivecidas de tanta falta de ar e de coragem gritarem o teu nome. Chamavam por ti mas era eu quem respondia.
Acordei. O vento a acariciar a areia quente, o sol a empurrar-me para um recanto qualquer há muito esquecido. O sol a gritar-me que não tinha o direito a voltar à vida. Mas eu voltei. Voltei ainda que fosse para viver na escuridão.
Escondi-me nas rochas até ganhar forças para enfrentar o dia que sorria ao ver-me como um verme entregue ao abraço da solidão. Raiva e incompreensão foi o que senti ao pensar que deveria viver para sempre nesta condição. Rodeada por violência e desespero pois nem a morte me quer como eu a quero.
Invade-me o cheiro podre de um corpo em decomposição. Preciso alimentar-me. Não posso acabar assim. A caça revela-se inútil. Não sei caçar só pescar e nessa espera continuo a deteriorar-me.
A vítima mordeu o isco e sem saber porquê foi um imenso prazer mordê-lo. Depois da espera o meu corpo recupera. Um novo ser nasce em mim e nada mais importa a não ser este sangue novo que me corre nas veias e as aquece e revigora. Invadem-me imagens de outra vida, um passado diferente do meu, lembranças de uma infância que só pode ter sido inventada pois nunca a conheci.
Finalmente descanso. Respiro calmamente observando a beleza do ser, agora vazio e pálido, que se deixou dominar para que eu pudesse renascer.
Paz. Enfim és minha para sempre.
1 comentário:
Isto está forte... tão forte que ainda tenho que analisar com mais calma....
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